Diabetes: com os pés em perigo

DIABETES: COM OS PÉS EM PERIGO

A situação chega a ser corriqueira: a pessoa com diabetes fere o pé caminhando por aí, só que não sente nada na hora. Mais tarde, em casa, tira o tênis e nota o machucado. Daí faz um curativo e pensa que tudo está resolvido. Sem causar alarde, porém, o ferimento evolui ao longo de semanas — o diabetes já reduziu a sensibilidade nas extremidades do corpo — e dá lugar a uma infecção, que, por fim, se alastra. Quando o indivíduo procura o hospital, a lesão se agravou a ponto de a única saída ser a amputação de uma parte do membro. Pense agora que essa história com final infeliz poderia começar também com uma bolha, uma frieira ou uma topada numa cadeira. Esse é o chamado pé diabético.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, as feridas nos membros inferiores estão presentes em 5% dos usuários do SUS com diagnóstico de diabetes há menos de dez anos e em 5,8% dos indivíduos com mais de uma década de doença — homens, tabagistas e portadores de insuficiência renal e cardíaca são particularmente vulneráveis. Não é um número pequeno se considerarmos que existem pelo menos 16 milhões de pessoas com diabetes no país. Tanto é que o próprio Ministério da Saúde conta com o Manual do Pé Diabético, um guia com os cuidados básicos para evitar e remediar a complicação, que hoje representa 20% das internações de sujeitos com diabetes no Brasil.

Isso impede uma boa circulação, o que leva um monte de células a morrer de fome. Nesse cenário, o sistema imune fica capenga, a regeneração dos tecidos anda a passos lentos e os nervos periféricos sofrem. A glicose elevada destrói a camada que protege o nervo. Assim ele fica mais suscetível aos danos causados pelas mudanças de pH do sangue ou de temperatura.

Razões fisiológicas do pé diabético



Baixa imunidade: a má circulação provocada pelo excesso de açúcar no sangue diminui a escolta de células de defesa prontas para agir quando preciso.

alta de sensibilidade: a alta da glicose leva a danos nos nervos periféricos, que captam e repassam estímulos como a dor. Daí que o sujeito mal nota encrencas no pé.

Déficit na cicatrização: o diabetes descompensado dificulta a regeneração de áreas lesadas, o que deixa a porta aberta para micróbios atacarem.

Sim, é uma complicação e tanto, mas a boa notícia é que o problema pode ser evitado. E a prevenção começa dentro de casa. A primeira regra é controlar as taxas de açúcar no sangue, incorporando à rotina uma dieta equilibrada, exercícios e, se for o caso, remédios para regular os níveis de glicose, colesterol e triglicérides.

Quem convive muito tempo com a glicose elevada corre maior risco de ter infarto, AVC, insuficiência renal e também o pé diabético. A segurança dos membros inferiores pede ainda cuidados extras, como cortar as unhas direito, enxugar bem os dedos, evitar andar descalço.

O acompanhamento médico também é fundamental. Não é incomum diabéticos procurarem o consultório ou o hospital quando já têm uma infecção no pé relativamente avançada. O ideal, porém, é realizar exames regulares para checar o risco de uma encrenca dessas se manifestar.

O manual do Ministério da Saúde orienta o indivíduo a fazer consultas em um intervalo de três a seis meses se houver indício de danos nos nervos periféricos — isso independentemente de deformidades no pé. Em caso de má circulação na região, às vezes dedurada por sensação de formigamento, o intervalo de visitas ao médico cai para entre dois e três meses. Havendo histórico de úlceras ou mesmo amputação, o checkup deve ser mensal ou bimestral.

Se você tem diabetes e, por acaso, sofreu algum ferimento, ou já está com algum machucado sem sinal de melhoras, o conselho é procurar um profissional quanto antes.

Manual de cuidados



Autoexame: avalie diariamente os pés em busca de micose, machucados ou sinais estranhos como vermelhidão. Estimule os dedos para ver se eles estão sensíveis ao toque.

Corte de unhas: mantenha-as aparadas, de preferência em linha reta, para evitar que você arranhe os pés e crie feridas durante o sono ou a prática de exercícios físicos.

Pós-banho: seque bem os pés para afastar frieiras. Vale a pena hidratá-los a fim de limitar o ressecamento, que os deixa suscetíveis a lesões — só não passe creme entre os dedos.

Calçados: evite sapatos ou tênis apertados e desconfortáveis, para não sofrer com bolhas e calos, ou abertos, para escapar de arranhões. É melhor não andar descalço por aí.

Meias: é preferível optar pelos modelos de algodão. As de material sintético, como náilon, fazem os pés suar mais e a umidade dá margem para a micose aparecer e se perpetuar.

Fonte: Saúde/Abril